Pesquisa mostra que brasileiro é o que menos reconhece estresse

25/8/2010

Estudo comparou sete países. Enquanto no Brasil 36% se acham estressados, nos EUA taxa sobre para 79%
Fernanda Aranda, iG São Paulo
O brasileiro tem dificuldade em reconhecer um dos grandes ameaçadores da saúde e do bem-estar.
Uma pesquisa internacional comparou a autopercepção de estresse entre sete países e constatou que o menor índice de "estressados" está no Brasil. A avaliação dos especialistas, entrentanto, é que o dado mostra também a dificuldade em reconhecer o mal.
No total foram entrevistadas 50 mil pessoas de 23 nações e os dados já foram calculados em sete países. Entre os brasileiros (875 entrevistas), 36% afirmaram ter experimentado estresse de forma moderada a severa no último ano, taxa semelhante à identificada na Espanha (35%).
Nos outros países avaliados, porém, os índices são muito diferentes. Nos Estados Unidos, 79% declararam ter passado por estresse. Na China, 69%. Na França, 56% e na Holanda 62%. A Bélgica, por enquanto, foi a grande campeã de estressados, com 81%.
Apesar desta resposta sugerir um olhar afirmativo do brasileiro com relação ao próprio bem-estar, outros dados também mapeados pelo estudo reforçam que as mesmas pessoas que dizem estar livre do estresse afirmam sofrer de problemas que ameaçam a qualidade de vida.
Do total de entrevistados, 1/3 dos brasileiros declarou sofrer de privação de sono, com comprometimento do desempenho profissional e pessoal, um dos gatilhos do estresse. A maioria diz estar descontente com os salários e os custos de vida, sendo as questões econômicas as grandes responsáveis pelo estresse, na avaliação de 73% dos ouvidos. Quase metade dos entrevistados (46%) se considera acima do peso e a insatisfação estética também é apontada como influenciadora no estresse.
Otimistas e desiguais
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Ipsos, a pedido da empresa Phlillips, com o objetivo de conhecer melhor o mercado para desenvolver produtos de "homecare". Especialistas de áreas diferentes – dois engenheiros, uma médica, uma psicóloga, uma arquiteta – foram convidados para tentar desvendar esse comportamento dos brasileiros.
Marcelo Takaoka, engenheiro diretor do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e pesquisador do Instituto Ethos, opinou que essa postura “mais otimista” do brasileiro é tradicional e cultural, o que pode ter interferido nas respostas sobre o estresse.
A médica Ana Maria Malik, especializada em medicina preventiva e fundadora da Sociedade Latinoamerciana de Qualidade em Saúde, acrescenta que, além de otimismo, outras características influenciam na percepção do estresse: a cordialidade e a “cuca-fresca” típicas do País. "Fatores determinantes nas relações com outros e no autocuidado", disse.
Já Oded Grajew, também engenheiro e fundador do Movimento Nossa São Paulo (ONG especializada em promover o bem-estar da cidade paulistana) acrescenta um componente determinante para os resultados mais amenos de estresse no país quando comparados aos de outras nações: “É muito difícil fazer qualquer média estatística em um País tão desigual. A desigualdade da qualidade de vida dos brasileiros, que é muito diferente no sertão do Ceará e no meio urbano de São Paulo, não é apresentada em nenhum outro país”, diz ao citar que este fator pode ter puxado a média para baixo.
A psicóloga Ana Cristina Limongi, diretora de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho, acrescenta que o dado que mostra 36% de brasileiros estressados deve ser um ponto de partida para próximas análises, já que negligenciar o estresse é perigoso para a saúde.
“Temos uma nota politicamente correta em pesquisas de qualidade de vida que é a nota sete. Sempre em uma primeira avaliação feita em uma empresa, cidade, fábrica 70% dos entrevistados dizem que está tudo bem ou dão nota sete para os serviços oferecidos. Quando você vai investigar, nem tudo está tão bem assim", afirma.
"Não reconhecer o estresse ou uma situação é muito complicado porque ameaça a saúde. Por exemplo, todos os estudos sobre o assunto mostram que as mulheres são mais estressadas do que os homens. Acredito que é porque a gente grita mais, expõe mais, reconhece mais o estresse. Não manifestá-lo e não identificá-lo é ficar mais próximo de problemas cardiovasculares e até câncer.”

Fonte: Delas - IG
http://www.espacoholos.com.br/noticias_interna.aspx?id=93

by jack