CONTARDO CALLIGARIS - Dormindo com inimigos?

_______________________

A paixão de Lindemberg era um

argumento para que atiradores de

elite apertassem o gatilho

_______________________

 

COMO MUITOS pelo Brasil afora, assisti ao extenuante drama de Eloá Pimentel, 15, seqüestrada durante cem horas e, no fim, morta pelo ex-namorado, Lindemberg Alves Fernandes, 22, em Santo André, São Paulo.
Como muitos, achei absurda a decisão das autoridades, durante as negociações, de mandar de volta para o cativeiro a amiga de Eloá, Nayara -que por sorte se salvou, embora baleada no rosto. E descobri, consternado, que o Grupo de Ações Táticas Especiais não dispõe de microcâmeras que funcionem nem de escadas que alcancem uma janela do segundo andar.
Fora isso, uma frase cativou minha atenção. No sábado passado, Ana Cristina Pimentel, a mãe de Eloá, declarou a Britto Jr. (TV Record) que "a polícia teve muito tempo para matar" Lindemberg e que os policiais deveriam ter atirado nele muito antes do desfecho.
Lembrei-me de que alguém da PM -talvez o próprio coronel Félix (não consegui reencontrar a reportagem)- afirmara que os atiradores de elite tiveram várias ocasiões para matar o seqüestrador, mas a ordem de atirar não foi dada por se tratar de um seqüestro motivado por razões, digamos assim, não torpes.
Nada de assalto, extorsão etc. Lindemberg e Eloá tinham sido namorados, e era na exaltação de uma paixão amorosa (por doentia que fosse) que Lindemberg estava cometendo aquela loucura e ameaçando acabar com Eloá e, depois disso, matar-se.
Aparentemente, a PM pensou que os sentimentos de Lindemberg tornassem menos provável que ele passasse das ameaças aos atos.
Curiosamente, eu pensava exatamente o contrário: a paixão de Lindemberg por Eloá me parecia aumentar as possibilidades de um desfecho fatal e constituir um argumento para que os atiradores de elite apertassem o gatilho. Por quê?
Não sei se existem estatísticas comparando o desenlace dos seqüestros perpetrados por razões torpes ao dos que são motivados pelos malogros do amor (separações não aceitas, ciúmes, despeito da rejeição e por aí vai).
Mas imagine, por um instante, que Lindemberg fosse um assaltante qualquer: por acaso, ele entrou no apartamento dos Pimentel para roubar e aí ficou, com duas reféns, encurralado pela polícia. Sem dúvida, ele ameaçaria matar as adolescentes para negociar uma chance de fuga. No entanto, quando os policiais arrombassem a porta, sua maior preocupação seria a de salvar a pele; ele poderia instintivamente reagir atirando nos invasores (e seria crivado de balas) ou abrigar-se atrás de uma das adolescentes, usando-a como escudo numa última tentativa de defesa. Mas por que mataria as reféns? Para ser morto a tiros na hora? Ou, se não fosse morto, para aumentar o número de anos que passaria na cadeia?
Claro, as ações de um criminoso acuado não são necessariamente racionais. No paroxismo dos breves segundos da invasão, um seqüestrador qualquer poderia atirar em suas reféns, por exemplo, para se vingar da "traição" dos negociadores que, certamente, prometeram-lhe salvação e liberdade. Mas é apenas uma possibilidade, enquanto Lindemberg, como ele havia dito explicitamente à mãe de Eloá, viera com o propósito de "fazer uma besteira": matar Eloá e matar-se (quem sabe, um jeito de ficar com sua amada para sempre). Para ele, a urgência, na hora da invasão, seria (e foi mesmo) a de levar a cabo sua tarefa. Faltou-lhe apenas a coragem (ou o tempo) de se dar um tiro.
Em suma, paradoxo: justamente porque o seqüestro não tinha razões "torpes", os atiradores da PM deveriam ter sido liberados para atirar.
A exposição midiática do caso fez que o pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, fosse reconhecido pela polícia de Alagoas como um foragido, suspeito de vários crimes, entre os quais o de ter matado a ex-mulher, em 1992. Por intermédio de seu advogado, Santos declarou: "Jamais cometeria um crime bárbaro contra uma mulher que tanto amei". Faz sentido, não? E a PM paulistana pensou parecido: Lindemberg não mataria Eloá, que ele tanto amava.
A verdadeira paixão amorosa não é exatamente um "bom sentimento". O apaixonado acredita no objeto de amor (que, de fato, ele inventa) assim como, nos transtornos mais graves, um indivíduo acredita em suas alucinações. Com uma diferença: contrariamente ao alucinado, o apaixonado não consegue renunciar a uma visão que é para ele, às vezes, a prova única e indiscutível de que ele não está só no mundo e de que a vida e a morte fazem sentido.

São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008 


Palestra!

Palestra:

"Madres lesbianas y diversificacion de los modelos de maternidad: algunas reflexiones desde la experiencia en España"

 

Com a Profa. Elixabete Imaz da Universidade do País Basco - Espanha


Data: Quarta-feira dia 5 de novembro de 2008

Horário: 10:30

Local: Auditório do CED

Promoção: UFSC / DICH / PPGAS / Rede de Parentalidades e Conjugalidades (CNPQ - NIGS)

 

Folder aqui. 

Entre Viena e Londres: Uma visita à Casa de Sigmund Freud

Olá Galera,

Este é o endereço do artigo Entre Viena e Londres: Uma visita à Casa de Sigmund Freud do Professor Rafael Villari em PDF.

http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/pcp/v20n3/v20n3a02.pdf

Boa noite a todos.

Dicionário de Psicologia Virtual

Colegas,

Encontrei um dicionário de psicologia virtual e como o site mesmo diz “é de caráter livre”, então tenhamos certo cuidado, mas vale a pena da uma olhada e uma pesquisada em palavras por nós já estudadas.

O Site do dicionário é: http://www.alppsicologa.hpg.ig.com.br/dicionario.htm

SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL - Palestra

A Assembléia Legislativa de Santa Catarina, convida todos os jovens para palestra SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL, com o médico Malcom Montgomery e sua banda.

Através de uma linguagem única, baseada na história da banda de rock que revolucionou o mundo, The Beatles, a palestra conta com recursos audiovisuais que mostram as fases da adolescência através de vídeo clip e traz a arte como expressão e pano de fundo para mostrar a adolescência e seus questionamentos.
O show tem conteúdo desenvolvido e narrado por Malcon Montgomey, que é acompanhado por sua banda. A palestra abrangerá as áreas da educação, saúde, música e cultura, sendo direcionado a pessoas de todas as idades, principalmente a jovens, pais, educadores e formadores de opinião, com entrada gratuita, às 16h30, do dia 29 de outubro, no Auditório Antonieta de Barros.

Anatomia 3D

Olá pessoal.

Venho com o objetivo de ajudar a todos que gostam da matéria, e/ou que possuem dificuldades. O site Visible Body, que está também na página do Prof. Adriano, pode ser uma grande e ótima ferramenta para todos.
Sabemos que anatomia é um pouco dificil de estudar em uma folha de papel, justamente por não mostrar o volume das coisas. Este site traz justamente esta terceira dimensão que só podemos visualisar nas sextas a noite, no anatômico.

O cadastro é simples, gratis e leva apenas alguns segundos, mas é totalmente em inglês.


Abraços

Parabéns

Em nome da turma gostaria de parabenizar a iniciativa do nosso colega Thiago, por ter criado o Blog da nossa turma.

LEMBRETE!

Só relembrando aos colegas que hoje 28/10/08, terça-feira, haverá aula de ATC-O. Mini-curso sobre o livro CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA - Calligaris.

Conheça as 10 razões da Psicologia contra a redução da maioridade penal

1. A adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa. O desafio da sociedade é educar seus jovens, permitindo um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto físico;

2. É urgente garantir o tempo social de infância e juventude, com escola de qualidade, visando condições aos jovens para o exercício e vivência de cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da própria sociedade;

3. A adolescência é momento de passagem da infância para a vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê, em nossa sociedade, ações que assegurem este ingresso, de modo a oferecer – lhe as condições sociais e legais, bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso garantir essas condições para todos os adolescentes;

4. A adolescência é momento importante na construção de um projeto de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para esta fase deve ser guiada pela perspectiva de orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação e, sim, pela orientação escolar e profissional ao longo da vida no sistema de educação e trabalho;

5. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade. É adequado, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional, principalmente em se tratando de adolescentes;

6. O critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político, sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma adequada de conduta para a constituição de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal reduz a igualdade social e não a violência - ameaça, não previne, e punição não corrige;

7. As decisões da sociedade, em todos os âmbitos, não devem jamais desviar a atenção, daqueles que nela vivem, das causas reais de seus problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e, conseqüentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns cidadãos. O debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais brasileiros que reduz e simplifica a questão;

8. A violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição, antes pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores e mantenedores de violência tem como um de seus efeitos principais aumentar a violência;

9. Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa. É encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destino ou possibilidade;

10. Reduzir a maioridade penal isenta o Estado do compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham uma adolescência sadia como meta.

Informação do site: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/noticias/noticia_070720_821.html, caso concorde o site oferece ao leitor enviar este manifesto para todos os Senadores, pois o Congresso volta a debater a questão da redução da maioridade penal.

REACESS

Colegas,

Gostaria de relembrá-los da indicação do Prof. Adriano quanto ao site REACESS - http://reacess.com.br, que trata da feira Nacional de Acessibilidade, Inclusão e Reabilitação.

Um grande abraço a todos.

Mercado de Trabalho.

Vídeo do programa Sem Censura da Rede TVE, apresentado pela consagrada jornalista Leda Nagle que entrevista o consultor de empresas Waldez Ludwig.

Vale à pena assistir, sugestão da nossa colega Hellen.




Novas configurações familiares

Colegas,

Sugiro a leitura de uma reportagem, da qual o assunto é muito recorrente nas nossas aulas de antropologia – Configuração familiar.

Revista Mente & Cérebro (site) - 24 de outubro de 2008

Novas configurações familiares

Tese defendida na USP de Ribeirão Preto analisou casos de adoção de crianças por casais homossexuais no interior de São Paulo. Os resultados mostram como, aos poucos, a sociedade vai se transformando para acomodar essas famílias

O endereço da reportagem é: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/novas_configuracoes_familiares.html

 

Abraços a todos.

A sexualidade de quem governa - CALLIGARIS



As fantasias que sustentam o desejo nos definem mais do que o gênero do parceiro

Será que a vida sexual de quem se candidata a governar é relevante para os eleitores? Há duas "escolas" de pensamento: a francesa e a dos EUA.
Para os franceses, em princípio, a vida amorosa e sexual dos governantes não tem relação com as qualidades morais que importam na vida pública. Portanto, é raro que, no debate político, apareçam "detalhes" privados (amantes, filhos fora do casamento etc.).
Nos EUA, ao contrário, a intimidade de governantes e candidatos é vasculhada. Talvez os norte-americanos sejam simplesmente mais moralistas do que os franceses. Ou talvez eles acreditem que uma vida privada libertina (ou não conforme a regra) prometa uma condução desregrada da coisa pública. Algo assim: quem não resiste à paixão (nem para compor o cartão-postal da campanha) colocará sua "tara" acima de seu dever.
É um enigma: os norte-americanos prezam a liberdade de cada um viver como ele bem entende, mas pedem que quem governa seja um exemplo de conformismo. E, em regra, o conformismo de quem governa (sobretudo se for só aparente) transforma-se em exigência de conformidade para todos.
O Brasil é outro enigma: a relevância política da vida amorosa e sexual dos governantes parece mínima, como se o público e o privado fossem domínios claramente distintos. Por outro lado, a esfera pública é brutalmente parasitada pelos interesses privados (corrupção, clientelismo).
Seja como for, nessa história, o que mais me impressiona é a ingenuidade com a qual é composto o "perfil" sexual e amoroso de candidatos e governantes. Nas campanhas eleitorais dos EUA, por exemplo, os candidatos levam consigo mulher e filhos; supõe-se que essa exibição valha como um atestado de "normalidade", enquanto, no máximo, ela indica qual é orientação sexual do candidato (e olhe lá) e qual sua aptidão para multiplicar-se.
Ora, se nossa vida sexual e amorosa diz algo sobre quem somos, não é graças à nossa orientação ou à nossa capacidade de procriar. Do lado amoroso, seria mais significativo considerar qual é o respeito pela singularidade do parceiro, qual a virulência da idealização ou do ciúme, qual a parte de narcisismo etc. Do lado sexual, muito mais que o gênero do parceiro escolhido (ou exibido), o que define um indivíduo são as fantasias (implícitas ou explícitas, realizadas ou não) que sustentam seu desejo.
Ou seja, se quisesse conhecer a vida sexual e amorosa de um candidato, precisaria saber não tanto quem ele ama, mas qual é seu jeito de amar, e não tanto com quem, mas COMO ele "transa" - ou seja, o que o excita, quais pensamentos, quais situações, quais palavras. Também me perguntaria se o candidato tem mesmo uma vida sexual (com que freqüência e intensidade) e se ele aceita sua própria sexualidade ou a vive com nojo ou asco.
Tudo isso, caso eu quisesse saber um mínimo sobre a vida amorosa e sexual de um candidato. Mas será que isso me seria útil na hora de votar? E de que forma?
Michel Foucault talvez seja o pensador que melhor desmascarou e contestou os mecanismos do poder moderno (isso, apesar de sua histórica burrada ao avaliar positivamente o regime dos aiatolás no Irã). Como ele mesmo revelava, sua sexualidade se alimentava em fantasias e práticas sadomasoquistas. Pergunta: sua perspicácia e seu engajamento libertários se deram apesar de suas fantasias sexuais ou por causa delas? Não sei.
A pergunta não é urgente: infelizmente, no estado atual de nossa sociedade, é improvável que candidatos e candidatas a cargos de governo falem publicamente do que importa em sua vida sexual e amorosa.
Fico apenas com esta idéia: em geral, um governante que aceita e vive suas próprias fantasias é, para mim, preferível a outro que as reprime, pois a falta de indulgência consigo mesmo promete rigidez hipócrita para com os outros. Também, o exercício da sexualidade introduz em todas as fantasias uma descontinuidade: a "brincadeira" termina quando acaba a relação sexual. Voltando ao exemplo de Foucault, quem goza sexualmente com os apetrechos do sadomasoquismo dificilmente consegue não achar risível a face sisuda do poder.
Mais um ponto: salvo ilegalidade, em matéria de sexo, minha regra geral é que só o interessado tem o direito de falar. A voz de um terceiro sempre ressoa como uma denúncia que faz apelo ao preconceito -ou seja, certamente não ao que tem de melhor em nós.
CONTARDO CALLIGARIS